Sabe aquela reflexão que a gente tem ao menos uma vez no ano, sobre como a vida é passageira demais? Sobre quão rápido pode ser um momento importante ao lado das pessoas que amamos e que queremos perto? É exatamente nesse momento que encontramos Nathalie Harper, uma mulher que tinha toda a sua vida minimamente organizada, mas que se vê totalmente sem chão após perder a mãe numa tragédia aérea, a mulher a qual ela mais amou, mas que acabou se afastando um pouco no decorrer do tempo. Agora, sozinha, Nathalie se vê como a única parente viva do seu avô Andrew, um senhorzinho maravilhoso, mas que todos os dias perde um pouco a luta para o alzheimer, herdando também, a pequena Livraria dos Achados e Perdidos, um sonho para qualquer leitor, mas um pesadelo para ela, principalmente após descobrir que o negócio está à beira da falência, acumulando dívidas exorbitantes com credores e editoras, sem falar na estrutura do prédio, que está desabando sobre a sua cabeça. Ela só queria saber.... Existia a possibilidade de piorar mais?

Sempre tem! Ela tem certeza que a melhor alternativa seria vender o prédio, fechar a livraria, e com o dinheiro, quitar todas as dívidas herdadas junto com o negócio e garantir um final de vida decente para o avô, que ultimamente tem tido mais dias ruins do que bons, mas Andrew se nega a vender o prédio e morar em outro lugar, pois é ali que se encontra seu lar, foi ali que ele nasceu, viveu e foi naquele prédio que foi firmada a história da família Harper!

O Edifício Sunrose é um dos personagens centrais no livro, tudo acontece nele e por causa dele. O local já foi um bordel, também já foi afetado no grande terremoto de 1906, abrigou famosos e anônimos, se tornando uma farmácia alguns anos mais tarde, e logo depois uma loja de conserto de máquinas de escrever. Hoje, o edifício imponente abriga a livraria dos Achados e Pedidos no térreo e tem um pequeno apartamento no primeiro andar, guardando história e sentimentos; com certeza, o prédio com a fachada desgastada, é um orgulho para os moradores da região. Como um prédio antigo no centro histórico de São Francisco, não é difícil perceber quantos consertos e reparos são necessários para mantê-lo de pé. Sem falar nos impostos atrasados, hipoteca que não é paga há anos, e em todos os empréstimos que a mãe de Nathalie precisou fazer para manter a propriedade da família, que vem sendo herdada por gerações. Mas Nathalie não deseja tocar o negócio, muito menos assumir as dívidas.... Ela está perdida. Nunca conseguiu entender o modo de vida da mãe... despreocupado, sem medo, e agora, após sua morte, precisa entender quem Blythe Harper foi, e como deixou todos os problemas virarem uma bola de neve. É possível fazer as pazes com quem já se foi? Reviver os momentos passados, e dizer pela última vez que sente muito?

Finalmente, entendendo que vender a propriedade não é o que a faria feliz, ela decide ficar e lutar! Sendo assim, larga o emprego que detesta, e contrata Peach Gallagher, uma espécie de “faz-tudo”, que tem como missão trazer um pouco de dignidade ao local, com o baixo orçamento que Nathalie dispõe. E é nesse processo, que conhecemos um pouco desse homem, que vai se mostrar muito mais que um simples contratado, nos surpreendendo com seu bom humor, simpatia e interesse real pelo bem-estar de Nathalie e seu avô Andrew. Mas Peach não mistura amor e trabalho, será que dessa vez, arriscar, vale a pena?

Mas você pode me perguntar: E o romance, vai rolar? Sim, caro leitor, com certeza vai. Mas senti que ele é mais um dos focos que a história vai nos apresentar e desenvolver, do que o assunto principal, muitas outras questões vão ser desenvolvidas no decorrer das páginas. O romance vem de mansinho e vai nos conquistando aos poucos. Senti que a autora quis desenvolver mais lentamente o relacionamento do casal, sem ser algo platônico, mostrando algo mais real, no processo em que duas pessoas se encontram, desenvolvem amizade, confiança, só depois dando uma chance para o sentimento, torci demais por eles.

O destaque aqui não é apenas para os personagens principais, todo mundo tem a sua hora de brilhar, seus conflitos, sucessos e fracassos. Como um ator que não consegue decolar na sua carreira, uma roteirista que nunca recebeu destaque, uma pequena garota que precisa entender a separação dos pais, um senhor que se apega ao pesado, e tenta entender o futuro, muitas vezes se esquecendo de quem mais amou. Todo mundo está lutando a sua guerra pessoal, mas a todo momento, nunca deixam de mostrar reciprocidade, amor e resiliência. A autora conseguiu tecer com maestria passado e futuro, lembranças e dores, nos fazendo mergulhar na pele de cada personagem, suas histórias pessoais, sentimentos, e a forma que procuram encarar a vida, um dia de cada vez.

Acho até complicado falar de tudo sem dar spoiler, mas posso dizer que é um livro cheio de reflexões, que fala sobre luto, sobre o processo de aceitação da perca de um ente querido, sobre resiliência, sobre se aceitar e se dar segundas chances, e em como lidar com a dificuldade que a vida muitas vezes nos impõe, principalmente as mais inesperadas. Mostra o desabrochar de uma mulher forte e dona de si, e como ela percebeu que muitas vezes a força pode se mostrar no mais frágil.

No fim, só posso dizer que é um livro muito especial, me fez destacar vários quotes durante a leitura, e ganhou grande significado para mim. É uma história que vou levar comigo, e sempre que puder vou voltar e reler algumas passagens marcantes, pois, é uma obra que vai além do sonho de todo leitor, do paraíso que é uma livraria. O enredo fala sobre pessoas que parecem tão reais, e como os livros estão diretamente ligados a elas, fazendo parte das suas experiências de vida. Fala sobre como somos produto da nossa própria história, do que decidimos viver e arriscar. Não é uma trama simples, tão leve, ela me fez refletir sobre escolhas da minha própria vida, minhas prioridades, com quem compartilho meus momentos e para quem eu falo “eu te amo”, traz uma carga de ensinamento tão linda, que valeu todo o tempo dedicado a essa experiência. Eu leria tudo de novo!