[Resenha] A Menina que Roubava Livros

by - maio 24, 2016



A menina que Roubava Livros
Autor: Markus Zusak
Publicação: Editora Intrínseca

Sabe aquele sentimento de acabar uma leitura e sentir a necessidade extrema de compartilhar ela com todas as pessoas dessa terra? Ler quase 500 páginas, saborear o misto de emoções e quando perceber que chegou no final do livro, ter aquela convicção de “preciso dizer ao mundo que amei cada palavra que li aqui”. Pois bem, eu li A Menina que Roubava Livros.

Como mostrei a uns meses atrás, ganhei vários livros de presente no meu aniversário e muitas amigas haviam me recomendado a leitura da Menina que Roubava Livros, porém eu sou do tipo de leitora de me afasto totalmente das leituras queridinhas do momento, porque não gosto de me sentir influenciada pelo que as pessoas a minha volta estão lendo, não gosto de sentir que tenho certa obrigação de gostar de determinado livro só porque todas pessoas estão gostando dele. Prefiro esperar essa “nuvem” passar e conseguir analisar cada palavra e ensinamento da leitura de “cabeça fria”. Por esse motivo, ainda tinha receio em pegar no livro, e quando alguns amigos viram fotos dele no meu instagram, me encheram de comentários do tipo “VOCÊ PRECISA LER JÁ”!!! Confesso que fiquei um pouco temorosa de estar sendo indiretamente obrigada a fazer a leitura, então meio que por debaixo dos panos, comecei a conhecer Liesel e toda a história ao redor.

O enredo se passa durante a segunda guerra mundial, e todos os livros que já li e que se passam nesse momento histórico, eram totalmente focados nos judeus, no sofrimento, na tortura e eu nunca tinha parado pra pensar no outro lado da moeda. Como vocês deve perceber Liesel é uma pequena alemã, tão vítima da guerra quanto qualquer outra pessoa e o maior diferencial desse livro pra qualquer outro que já li, é que a narradora de tudo própria morte. Afinal, quem mais capacitado pra nos contar o que acontece dentro de uma guerra?

“Eu poderia me apresentar apropriadamente, mas, na verdade, isso não é necessário. Você me conhecerá o suficiente e bem depressa, dependendo de uma gama diversificada de variáveis. Basta dizer que, em algum ponto do tempo, eu me erguerei sobre você, com toda a cordialidade possível. Sua alma estará em meus braços. Haverá uma cor pousada em meu ombro. E levarei você embora gentilmente.”

Logo no início somos apesentados a uma menininha parada na neve aos 9 anos. Seus olhos estão postos num buraco de terra congelado onde seu irmão acabou de ser enterrado, e em sua mão está o objeto de seu primeiro roubo, um livro de capa preta. Por determinados motivos Liesel é abandonada por sua mãe biológica nas primeiras páginas do livro e passa a morar na casa de um casal muito peculiar, Hans e Rosa Hubermann. Foi a partir da rotina com esse casal e seus novos vizinhos que pude perceber a pobreza que muitos alemães eram obrigados a conviver, a lavagem cerebral que crianças sofriam nas escolas, a cultura que foi imposta a todos, as fiscalizações, as comemorações impostas, a imposição do partido para pessoas se filiarem e o “castigo” que a própria sociedade aplicava a quem não se curvava a essas regras. Ao decorrer da leitura, somos apresentados a algumas palavras alemãs que acabam se repetindo muito e dão certo grau de veracidade aquilo que estamos lendo, conhecemos diversos personagens, alguns com certa simpatia, outros dotados de maldades que só o coração de uma criança pode enxergar, entre todos eles está o pequeno  Rudy Steiner, um menino que só sonha com um futuro, que nos mostra que existe humanidade no coração de uma criança que todos os dias é levada a crer no oposto. Nossa pequena Liesel não é diferente, apesar de todas as coisas que ela é levada a acreditar, sempre nos surpreendemos com atos e pensamentos sutis que nos mostra que é possível existir amor e compaixão no meio da guerra. Os livros? Estão todos lá, e é uma delícia presenciar todos os pequenos furtos, mas sinto que eles são apenas coadjuvantes de uma história bem maior e muito mais profunda do que as aparências nos mostram. 

Apesar do livro acompanhar alguns anos de uma criança se tornando adolescente, não podemos esquecer que a Liesel está inserida numa sociedade em guerra, e por mais que o autor traga a realidade muitas vezes de forma sutil, em algumas partes do livro é impossível escaparmos de toda a carnificina que o homem causa a si mesmo, e não existe ninguém com mais propriedade no assunto do que a própria morte.

“Veio o verão.
Para a menina que roubava livros, tudo corria bem.
Para mim, o céu era da cor dos judeus.
Quando seus corpos acabavam de vasculhar a porta em busca de frestas, as almas subiam. Depois de suas unhas arranharem a madeira, e em alguns casos, ficarem cravadas nela, pela pura força do desespero, seus espíritos vinham em minha direção, para os meus braços, e galgávamos as instalações daqueles chuveiros, escalávamos o telhado e subíamos para a eternidade [...] chuveiro após chuveiro.
Nunca me esquecerei do primeiro dia em Auschwitz, da primeira vez em Mauthausen. Nesse segundo local, com o correr do tempo, também passei a pega-los no fundo do grande penhasco [...] havia corpos quebrados e meigos corações mortos. Ainda assim era melhor do que o gás. [...]
Deus.
Sempre pronuncio esse nome ao pensar naquilo,
Deus.
Duas vezes eu repito.
Digo o nome Dele na vã tentativa de compreender. [...]
Eram judeus, e eram você.”

Página 305-306

É um livro com um misto de emoções, ele vai te fazer rir com o prazer de ouvir uma música no acordeão em uma página e na outra vai te fazer sentir o sofrimento de precisar se esconder para sobreviver, de passar fome, de passar frio, de ter pouca comida e mesmo assim ter um coração enorme pra alimentar mais uma pessoa, de cuidar de quem precisa de cuidados, de renunciar o que os outros dizem que é certo pra fazer aquilo que você acredita ser o certo. E é incrível que toda essa lição vem de uma pequena menina alemã, que muitas vezes apesar de toda a traquinagem de criança, se mostra muito mais humana do que muitas pessoas que tentam se engrandecer com atos de humanidade.
Resumindo em uma única palavra, digo que é uma leitura humana e que com certeza vai te enriquecer. Não acho que demorei muito pra dar uma oportunidade ao livro, ao contrário, sei que as palavras chegaram no tempo certo.

Ela era uma menina. 
Na Alemanha nazista. 
Como era apropriado que descobrisse o poder das palavras! 

Pág. 134



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2 comments

  1. Ainda não li esse livro pois compartilho do mesmo pensamento que você, não gosto de leitura de modinha rsrsrs
    Apesar de muitas pessoas também já terem me indicado a leitura, irei colocar na minha listinha!
    Gostei bastante da resenha, espero gostar também do livro!

    Katherine

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    1. Vale muitooo a pena! Tenho quase certeza que você não vai se arrepender.

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