[Resenha] Pollyanna

by - novembro 05, 2018

Pollyanna
Autora: Elennor H. Porter
Publicação: Autentica
Tradução: Márcia Soares Guimaraes

"- Parece que ocê fica contente por causa de qualquer coisa - falou Nancy, levemente emocionada com a lembrança do admirável esforço de Pollyanna para gostar daquele quartinho sem graça no sótão.
Pollyanna riu.
- Ora, afinal, esse é o jogo, né?
- O... Jogo?
- É, o jogo do contente.
-Que diabos é isso?
-Ora, é um jogo. Papai me ensinou, e é muito legal! - respondeu Pollyanna. - Nós sempre jogamos, desde que eu era bem pequenininha. Ensinei para as senhoras da igreja, e elas jogavam também... quer dizer, algumas delas.
- Como é? Aviso que não sou muito boa em jogos.
Pollyanna riu de novo, mas suspirou também; e, sob a luz do crepúsculo seu rosto pareceu triste e saudoso.
- Bem, tudo começou com algumas muletas que vieram num barril de missionários.
- Muletas?
- Isso mesmo. Eu tinha pedido uma boneca, e foi isso que papai escreveu. Mas quando o barril chegou, tinha um bilhete dizendo que não conseguiram nenhuma boneca, só muletas infantis. Então eles mandaram, pois elas poderiam ser úteis para alguma criança, algum dia. E foi então que jogamos pela primeira vez.
- Certo, mas confesso que num entendo o que isso tem a ver com jogo ...num entendo mesmo - declarou Nancy, um pouco irritada.
- Ah, tem sim! O jogo é exatamente encontrar alguma razão em tudo pra ficar contente... não importa o que é - respondeu Pollyanna, séria. - E foi exatamente ali que começamos ... Com as muletas.
- Credo! Num consigo ver como ficar contente em... ganhar muletas, quando se quer uma boneca!
Pollyanna bateu palmas.
- Mas ... tem sim! - falou satisfeita. - No começo, eu também não conseguia ver, Nancy - Acrescentou, num impulso de honestidade. - Papai teve que me explicar.
- Então, acho que ocê vai ter que me explicar. - Nancy falou imediatamente.
- Simples! Ora, é só ficar contente porque você não ... precisa ... delas! - Pollyanna explicou, bastante animada e triunfante. - Está vendo? É muito fácil quando a gente sabe o que fazer."

Que livro minha gente! QUE LIVRO! Esse é o tipo de leitura que a gente precisa fazer todo ano pra renovar as esperanças, as crenças, a alegria dentro da dente! Tem trechos que dão vontade de tatuar no corpo só pra gente não esquecer de sermos mais gratos pelas coisas que temos em vez de estarmos sempre reclamando pelas coisas não alcançadas. Pollyanna é um exemplo, por isso não me admiro que tenha se tornado um clássico nos dias de hoje.
Como o título já diz, e vocês já devem ter percebido, o livro vai contar a história da pequena menina orfã Pollyanna. Após perder seus dois pais, ela precisa se mudar para a casa de uma tia distante de que nunca teve conhecimento, a irmã da sua falecida mãe. Mas tia Polly é tudo que a menina não esperava de uma tia, já que a jovem senhora é nitidamente uma pessoa amargurada, magoada e envolta de paredes que ela mesma construiu, logo inacessível a qualquer avanço de carinho que Pollyanna precisa. A única coisa que as duas tem de mais comum é o nome, já que tia Polly como uma boa católica, enxerga a menina apenas como uma obrigação, já que é a única parente viva.

O livro narrado em 3º pessoa vai nos mostrando como Pollyanna com sua simplicidade e inocência infantil consegue ir minando as defesas de todos a sua volta, desde a empregada Nancy, até o senhor Jonh Pendlenton, que não falava com ninguém a anos. A "mágica"? O jogo do contente! Ela vai ensinando a todos, e os adultos já todos endurecidos e recalmões, ficam sem resposta para os apontamentos simples de Pollyanna sobre a vida. Engraçado né? Como a gente complica coisas tão simples só por egoísmo. É um aprendizado atrás do outro, ninguém sai imune ao encanto da garotinha de 11 anos.

Sei que atualmente tem até novela inspirada na obra, mas fiquei boba quando descobri que a publicação na verdade é de 1913. O livro já foi republicado incontáveis vezes, por incontáveis editoras, já foi traduzido pra várias línguas e até hoje é sucesso de vendas. Inclusive, existe uma continuação chamada Pollyanna moça, que ainda não li, mas já está na minha listinha de futuras aquisições. A curiosidade é dizer que para mim foi uma releitura, mas com gosto de primeiro contato, já que a primeira leitura eu fiz por volta dos 12 anos. Lembrava apenas de ter ficado eufórica com a história, mas não me lembrava dos motivos. Agora sim, sinto o coração aquecido mais uma vez.

Pollyanna é um livro para todas as idades, já que independente  disso, todo mundo consegue extrair aprendizado de cada página, cada frase, cada passagem. Foi uma leitura especial pra mim, reflexiva, ótima pra se ler agora no final do ano, onde a gente sempre acaba refletindo sobre o que passou e planejando o que virá. Eu recomendo MUITO, a todos. Com certeza mais um livro favoritado na lista de boas leituras em 2018.


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