[Resenha] A Dama de Papel

by - agosto 13, 2018

A Dama de Papel
Autora: Catarina Muniz
Publicação: Universo dos Livros

"Manter relações com o cônjuge era o mesmo que um balanço contábil. Fazia-se periodicamente, quase que com a mesma exatidão matemática. E os homens e mulheres daquela época estavam bem habituados àquela situação. O equilíbrio emocional era essencial para o equilíbrio econômico. As paixões eram venenosas! Podiam destruir não apenas famílias, mas fortunas e reputações. De casa pra fora, essa era a lei seguida por todos; pelos ricos com mais presteza, obviamente. Mas da derme pra dentro, havia uma guerra entre a manutenção do poder e os excitantes perigos que ele podia pagar. Molly era assim: Um perigo excitante, vigoroso, magnífico. Molly gostava do sexo. E como gostava! Deleitava-se, espreguiçava-se na cama, rainha de seu trono. Sentia-se confortável nua. Tocava seus homens onde nunca eram tocados. Proporcionava novas sensações a eles, sorria, se divertia. Para ela, os corpos nus podiam ser tão peraltas como crianças brincando."

Começo esclarecendo que, se você está procurando uma leitura de romance fofo de época com cenas romantizadas... Esse livro não é pra você. A dama de papel me deu tantos tapas na cara sobre a realidade do século passado, que não sei como no fim sai intacta kkk. Nossa "mocinha" é tudo, menos uma mocinha, ela não está em perigo, ela não quer casamento, ela não planeja filhos e uma família. Ela é uma prostituta, e exerce seu ofício com muito orgulho. Ela sabe quem é, e não precisa que ninguém diga isso a ela, trabalha com honestidade, e como o texto acima deixa claro: Ela ama o ato sexual entre um homem e uma mulher. Quando comecei minha leitura, não fazia a menor ideia do que a leitura me mostraria, pensei que seria apenas mais um livro de amor fofinho, mas a cada página, a realidade da personagem me mostrava que esse livro ia retratar apenas a realidade de um amor impossível de acontecer.


Melinda, hoje já não pode ser chamada assim. Ainda muito jovem ela precisou fugir do conforto da sua família rica, pois estava prometida em casamento a um homem velho e cruel. Sem opções de onde se esconder, Melinda precisa se reinventar, e a partir dai ser apenas Molly. Abrigada em um prostíbulo da periferia de Londres é ali que ela cria seu lar, atende seus clientes, e assim sobrevive todos os dias. 
Acho importante frisar que os relacionamentos íntimos naquela época eram algo realmente complicado. Não era de bom tom mulheres casadas tomarem certas "liberdades" com seus maridos, esposas serviam apenas para procriar e ser uma boa companhia em grandes eventos, gerir uma casa e educar os filhos do casal. No âmbito sexual, era até incentivado aos homens terem casos extra-conjugais com prostitutas e mulheres de índole duvidosas, já que qualquer homem que tivesse uma esposa mais libertina, não seria visto com bons olhos pela sociedade.

Anos após a fuga, Molly consegue uma fama que precede por todos os lados. Homens de toda a Londres adentram no prostíbulo para enfim conhecerem os encantos da famosa prostituta, e foi assim que Charles O'Connor - um empresario muito rico, porém cansado da sua vida de casado - encontra Molly pela primeira vez. A paixão dos dois é tão intensa, tão fogosa, que é impossível não começarem a ter uma relação que vai além de uma tipica relação comercial. Os dois se gostam, e isso vai além do sexo, eles se compreendem e se respeitam. Mas como convencer uma prostituta que ama o seu trabalho, a largar tudo para ser mais uma mulher presa aos padrões da sociedade?

"Com Molly, conversava sobre artes e política. Era sem dúvida uma mulher cheia de argumentos interessantes, com um sólido conhecimento intelectual e muito bem informada para uma prostituta! Molly era realmente uma joia escondida entre os lençóis velhos e desbotados..."

A partir desse romance surreal, Charles se vê loucamente apaixonado, e sem ter como estar sempre presente na vida de sua amada, a única forma de desabafar, é escrevendo textos, textos de amor, saudade, e muito sexuais sobre a sua Dama de papel.

A realidade do livro é sofrida gente, muitas partes são de desgraçar o coração, principalmente se enxergarmos como mulheres eram tratadas e vetadas das suas liberdades. O consolo que tive, foi ver que apesar de todas as privações, Molly ainda assim luta pela sua liberdade, pelos seus direitos, e no pouco que pode, ela tenta ser uma mulher que pode estar de igual pra igual com qualquer homem, isso dá até um orgulhinho viu? Se você comprou o livro, e está devidamente preparado pra uma carga mais pesada, recomendo muito que você leia e saia da sua zona de conforto. As vezes é muito bom ler algo que toque na nossa ferida, que nos faça ter empatia, que nos faça pensar de onde viemos e o que estamos querendo pra o futuro, principalmente no que se diz a realidade de nós, mulheres.

"Tudo o que Molly almejava era ser livre. Dona de si e independente. Tudo o que Molly queria era ter domínio sobre as próprias escolhas e conclusões. Tudo o que ela queria era sua vida, mesmo que coberta de escaras e cicatrizes. Em sua opinião, era o mínimo que lhe poderia ser dado. E no entanto, sua vida parecia um jarro quebrado em mil fragmentos."

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2 comments

  1. Oi Elida.
    Menina que resenha porreta! Eu ganhei este livro da Editora Universo dos Livros, na época de seu lançamento, e por n motivos, acabei deixando a leitura para depois. Enfim, acabei descobrindo que o romance era intenso, diferente e que para meu pesar, não tem final feliz... Aí não tive mesmo coragem de ler. Sua resenha me deu outra visão do que esperar e me animou para colocá-lo na fila de leitura novamente.
    Bjus

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    Respostas
    1. Ai Liaa, que retorno maravilhosoooo! Obrigada, fico feliz mesmo de poder ter te dado outra perspectiva do livro <3
      Obrigada <3

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