[Resenha] Um Mais Um

by - janeiro 07, 2019

Um Mais Um
Autora: Jojo Moyes
Publicação: Intrínseca
Tradução: Adalgisa Campos da Silva

"Ela desligou o telefone e sentou-se pesadamente na cadeira de jardim de plástico branca, na qual crescera uma fina pátina de musgo cor de esmeralda. Fitou o nada. Pela janela viu as cortinas que Marty (o ex-marido) sempre considerara muito claras, o triciclo vermelho de plástico do qual nunca conseguira se livrar, as guimbas de cigarro da porta ao lado salpicadas como confete na entrada da casa, as tábuas podres da cerca por entre as quais o cachorro insistia em enfiar a cabeça. E apesar do que Nathalie (a vizinha) classificava como seu otimismo francamente desorientado, Jess percebeu que seus olhos tinham ficado inesperadamente cheios d'água.
Havia um monte de coisas horríveis associadas ao fato de o pai dos seus filhos ter ido embora: os problemas financeiros, a raiva reprimida em nome das crianças, o modo como a maioria de suas amigas casadas agora a tratava como se ela fosse uma especie de ladra de maridos em potencial. Pior que isso, porém, pior do que a luta interminável e exaustiva que minava as finanças e as energias, era que ser chefe da família sozinha quando se estava totalmente despreparada para isso era, de fato, a posição mais solitária da terra."

As coisas andam ruins, muito ruins pro lado de Jessie Thomas. Ser mãe solteira de uma menina de 10 anos e madrasta de um adolescente não é nada fácil, principalmente quando seu ex está vivo e simplesmente decidiu dar no pé a 5 anos sem nenhuma desculpa palpável. Pior é ter que falar com ele toda semana por telefone e escutar as mesmas desculpas de sempre. Jessie acaba tendo que se adaptar a vida real, já que criar 2 seres humanos e um cão desastrado exige dinheiro, então a rotina precisa ser puxada: São dois empregos. Durante o dia as faxinas ainda conseguem dar algum dinheiro, mas ser garçonete em um bar noturno, garante o pagamento das contas em dias, mesmo que muitas vezes ela precise ouvir algumas gracinhas e no fim das contas não gasta-lo com nada pra si própria. Sabemos que lá no fim, Jessie só quer dar uma condição digna para seus filhos: Tanzie e Nick, apesar de Nick não ser seu filho de acordo com a lei.
Os problemas também povoam a cabeça de Ed Nicholls. Apesar de todo o dinheiro e império que ele construiu com seu sócio numa empresa de desenvolvimento de software, Ed continua sendo o típico nerd do ensino médio que precisa mostrar a todos que se destacou e subiu na vida, pra isso ele faz questão de esbanjar todo dinheiro, afinal, dinheiro compra tudo... Ou não? E é numa dessas enrascadas que Ed acaba se afundando e vendo a empresa afundar junto, é nessas horas que a consciência pesa, e ele talvez descubra que tem sim, muita coisa que vai além do que as notas que ele guarda no banco.

É nesse ponto que a história engata, duas pessoas que estão a beira do precipício e não sabem bem o que fazer. Enquanto Ed só precisa de um tempo pra ficar em off de toda a confusão de causou, Jess está correndo atrás da primeira oportunidade que a vida mostra em muito tempo: Tanzie tem tudo pra ganhar um concurso de matemática super concorrido na Escócia, e com o dinheiro, Jess pode finalmente investir nos estudos da menina, dar uma chance que ela própria não teve. A dificuldade: A família Thomas só tem um Rolls-Royce super velho, com o motor capenga, documentação atrasada e empestado de ratos esquecido na garagem. Mesmo arriscando ser presa, Jess resolve arriscar, e quando o carro quebra no início da viagem, Ed, o cavaleiro que nunca fez uma boa ação na vida, decide vir ao socorro da família. Bem... Fica claro que ele se arrependeu no momento em que deu a ideia e principalmente quando soube que o cachorro que mais parece um urso fedorento teria que ir junto na viagem de carro, mas o destino tem seus caminhos, e a viagem que tem tudo pra dar de errado, trás aprendizados maiores do que a gente espera.

Quem já leu algum livro mais histórico da Jojo, sabe o quanto o ar pesado das histórias ditam um ritmo mais lento na narrativa, o que definitivamente NÃO acontece em Um mais Um. O livro trás um ar muito mais cômico da coisa, se assemelhando muito ao humor de Como eu Era antes de Você. Enquanto o Ed é um personagem mais fechado e austero por algumas mágoas do passado, a Jess trás aquele tipo de alívio cômico, onde muitas vezes ela acaba rindo dos próprios problemas. Os dois vão acabar enfrentando muita situação constrangedora durante a viagem e aos poucos abrindo espaço pra se conhecerem e pra gente também conhecer um pedacinho da trajetória deles. Pra mim, não foi um tipo de livro romântico e eu particularmente não estava torcendo pra termos um casal ali kk, mas os dois se entendem, de uma forma que eu não entendi, mas que no fim fez todo sentido. O legal é que aqui ninguém se "transformou em nome do amor", os personagens tem personalidades próprias e são fieis a elas até o fim, apenas vão aprendendo a lidar e a conviver com as diferenças, numa jornada de conhecimento próprio.

Foi um livro que cumpriu o propósito de me divertir durante o tempo que estive com ele, apesar de não ter assuntos mais profundos, não senti que foi tempo perdido. Os personagens são divertidos demais e mostram um lado B da escrita primorosa da Jojo, eu dei muitas risadas durante a leitura e acabei me imaginando nas situações mais constrangedoras que são retratadas no livro. Sinto que eu precisava muito desse respiro no meio de algumas leituras mais pesadas e arrastadas que fiz nesse período, mas também, sei que não teria como me decepcionar, nessa minha curta jornada como leitora, Jojo Moyes sempre é uma boa pedida.



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